domingo, 22 de abril de 2018

O filme perfeito do Batman

Como é o seu filme perfeito do Batman?
O Batman tem várias facetas. Desde o agente do FBI, o tiozão cômico e o detetive sombrio até o herói trágico, o vigilante gótico badass e o super herói revoltado das frases de efeito que mata todo mundo; todas elas igualmente válidas.
E sou fã de (quase) todas elas.
Eu, particularmente fã da literatura grega (principalmente Sófocles), prefiro o personagem do Batman retratado como o herói trágico, deprimido, humano. O homem castigado por si mesmo e que carrega a culpa do mundo inteiro nas costas. Por isso, eu gostaria de um ator com uma profundidade dramática ampla, que pudesse exprimir todo o sentimento de paranoia do que é viver atormentado por fantasmas passados, do que é se ver no espelho e enxergar o porco-espinho de Schopenhauer, do que é não saber até onde tem o luxo de pensar em si mesmo.
Ao mesmo tempo, eu não acho que um filme totalmente sobre o Bruce Wayne seria perfeito. Bruce Wayne foi fadado a uma morte lenta desde o assassinato dos seus pais, e a consolidação de sua morte se torna eminente quando, pela primeira vez, a máscara do morcego é vestida. Por isso, eu acho impossível fazer um filme que retrate a tragédia de Bruce sem o Batman, não pode ser puro drama psicológico. Aí entra a trama de super herói.
Mas qual trama de super herói? Bater em bandidos de rua, pé-rapados, assaltantes? Deter um massacre sem pudor causado pelo Coringa? Não. Eu acho que a melhor exploração do Batman seria no confronto intelectual entre ele e seu supervilão. Essa é a face detetivesca do Homem Morcego.
Eu tenho minhas ideias para uma trama de suspense investigativo, mas que envolvesse vilões ainda não explorados, como o Charada, por exemplo. Obviamente, ele teria de ser reinventado para caber nos dias atuais, uma vez que não foi um dos atualizados sempre pelas HQ's. O Charada, na minha visão, nos dias atuais, seria como os protagonistas de Zankyou no Terror, por exemplo; sendo um artifício perfeito para a criação de um roteiro estilo noir.
Mas o estilo Noir não se resume ao roteiro. Ele tem sua estética própria. Noir, do francês, significa "negro". É escuro. É sombrio. Os filmes noir destacavam o contorno em detrimento dos tons de cor, como se fossem imagens vistas através das luzes de gás do século XIX. A aparência dos filmes noir demonstra a visão pessimista e desiludida que o mundo tinha após testemunhar o horror da guerra. Essa é a estética em que Burton se inspirou para fazer sua duologia. Ele também trouxe, e eu apoio a decisão, elementos de arquitetura e música gótica, imprescindíveis para a caracterização do Batman dos anos 80, com cenários e fotografia inspirados no expressionismo alemão, que foi um movimento que buscou expressar, através da fotografia e cenografia dos filmes, como os autores se sentiam em relação ao mundo. E o Batman tem um grande poder de expressão.
E esse grande poder de expressão não se resume ao visual do herói. Batman também tem um poder de expressão sobre muitas áreas do conhecimento. E, como todas as áreas do conhecimento evoluem, devemos reconhecer que o Batman deve evoluir também. Foram-se os tempos onde matar ladrões com bazucas era legal. Foram-se os tempos onde espancar homens que roubam para comer era aceitável. O Batman dos dias atuais tem outras preocupações. Não, não defendo de jeito nenhum um Batman pós-moderno, hippie e contra a violência. Mas existem peixes muito maiores e questões onde a atuação do herói seria muito mais eficiente e, por que não, inteligente. E dois bons exemplos de como ele pode ser trazido para dias atuais são The Dark Knight, de 2008, e o quadrinho The Long Halloween, de 1997, que assumem a trivialidade de se espancar ladrão a ladrão e pontuam que, na verdade, a verdadeira preocupação do Homem Morcego deveria ser vilões com maior poder simbológico e pessoal para ele.
O meu filme ideal do Batman reuniria uma estética noir, com elementos do expressionismo alemão e do cinema gótico. Teria uma trama de detetive bem amarrada e com um roteiro surpreendente. Contaria com uma construção de herói trágico impecável.
Ou seja: eu sou chato e exigente pra caralho.